21/05/2010

Metallica ao vivo no Pavilhão Atlântico, em Lisboa:

Já passava das 21:30 quando os primeiros acordes de "The Ecstasy Of Gold" soaram num Pavilhão Atlântico quase a rebentar pelas costuras. Antecedido pelo clássico "Heavy Metal Thunder", dos não menos clássicos Saxon, foi a composição de Ennio Morricone para a banda sonora do filme O Bom, O Mau e O Vilão que - como já é habitual - deu início a mais uma actuação dos norte-americanos Metallica em solo nacional.Ainda a promover Death Magnetic , a banda oriunda de São Francisco começava assim o primeiro de dois concertos no Atlântico, a sala que os recebeu num estado de entusiasmo tão elevado que provou, uma vez mais, que os Metallica são um verdadeiro fenómeno de massas.
A plateia confirmou a ideia quando, já no final da actuação, respondeu com um épico "Yeahh!" à pergunta do baterista Lars Ulrich depois de terminado o encore e de uma ovação que durou mais de cinco minutos: "should Metallica play in Portugal every year?". São um caso raro de sucesso, popularidade e consenso, um daqueles gigantes que parecem intocáveis e que já nem sequer precisavam de gravar discos novos para continuar a encher estádios e pavilhões por todo o mundo.
Os Metallica continuam, no entanto, a gravar música nova - e gostam de a mostrar ao seu público. O concerto de ontem, terça-feira, comecou precisamente com duas canções do mais recente registo de originais. "That Was Just Your Life" manteve a banda na penumbra e iluminada apenas por lasers e, com uma explosão de luz que revelou em toda a plenitude o famoso palco a 360 graus, "The End Of The Line" permitiu ao público estabelecer pela primeira vez contacto visual com Ulrich, James Hetfield, Kirk Hammett e Robert Trujillo.
Os dois primeiros temas serviram também para perceber duas coisas: que o som não estava tão cristalino como em outras ocasiões e que, apesar de ser um conceito muito interessante no papel, a tal experiência a 360 graus tem tantas coisas boas como más.
É certo que acaba por dar um toque um pouco mais "intimista" à actuação - mantendo obviamente a noção de que estamos a falar de um espaço para milhares de pessoas - e que a banda, ao não estar propriamente presa a uma posição pré-designada em palco, se diverte bastante mais do que numa situação normal.
Por estranho que possa parecer, tendo em conta que com esta configuração os músicos passam muito mais tempo de costas uns para os outros do que é habitual, os quatro músicos revelaram uma sintonia apreciável Também é verdade que, com sorte, quem está nas filas da frente vai estar sempre a ver, pelo menos, um dos quatro músicos a olhar na sua direcção.
O problema são as pessoas que não estão propriamente na fila da frente e que acabam por ver menos do que se passa em palco do que se ele estivesse, como é costume, encostado a uma das extremidades do recinto. Nada, no entanto, que tenha atenuado a reacção eufórica da plateia e também das bancadas, repletas de gente.
"Ride The Lightning" e "Through The Never" fizeram a primeira viagem ao passado, com Hetfield a mostrar desde cedo a atitude positiva que o caracteriza desde que deixou de beber - "the Metallica family here, in Lisbon, is alive and well". "Fade To Black", a épica balada do álbum de 1984, foi dedicada "to our friend Ronnie" - Ronnie James Dio, falecido há poucos dias - e, provavelmente, a linha "...but now he's gone" não fazia tanto sentido desde a morte de Cliff Burton.
"Do you fell the love? Do you feel it like I do?", perguntava Hetfield. O Pavilhão Atlântico respondia em sinal de aprovação, cantarolando em uníssono o solo de Hammett. Do último álbum seriam tocados apenas mais três temas, sendo que o desfilar de êxitos começou com "Sad But True", passou por "The Four Horsemen", "One" (que acrescentou pela primeira vez fogo ao interessante espectáculo de luz protagonizado por uma estrutura móvel suspensa no tecto), "Master Of Puppets", "Battery", "Nothing Else Matters" e, como já vem sendo habitual, acabou em apoteose com "Enter Sandman".
O encore foi feito com "Stone Cold Crazy" (dos Queen), a velha "Phantom Lord" (no final da qual o público cantou os parabéns a Castor, o filho de James que comemorava dez anos e subiu ao palco para celebrar a ocasião) e, já com as luzes do pavilhão todas acesas e uma chuva de grandes balões negros a caír sobre a plateia, "Seek & Destroy". "Metallica loves Lisbon!", pois claro. O sentimento parece ser, sem margem para dúvidas, recíproco.

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