18/06/2009

Marilyn Manson no Coliseu do Porto:


Logo pela manhã, um jovem de uma aldeia algo distante do Porto cidade, corria para a camioneta com uma camisola a condizer. Já de tarde escutava-se castelhano fluente nas imediações do Coliseu do Porto. Junto à porta, mesmo antes das 20 horas, as filas percorriam a Rua Passos Manuel para um lado e para o outro.
Não haja dúvidas. Este não é um artista que se veja por ocasião, por oportunidade. É um criador alvo de um culto visível, que Brian Warner (o Sr. Marilyn Manson) soube gerir a seu bel-prazer. É comum ouvir-se dizer que os seus discos não revelam hoje a premência de outros tempos mas a adoração e a devoção permanecem. E nesta noite, um Coliseu do Porto quase cheio fez questão de o demonstrar.
A actuação dos "Marilyn Manson", com novo disco fresco nas mãos, intitulado "The High End Of Low", e com Twiggy Ramirez de novo ao seu lado, não foi extensa mas focou as zonas capitais do seu percurso. Tudo começou com o presente e quando Brian Warner mostrou a cara pela primeira vez por entre as sombras e o nevoeiro deu-se início ao ritual.
"Four Rusted Horses" quis deixar claro que o que está na génese da música dos Marilyn Manson é o rock'n'roll, conseguido com um riff bem amigável. "Pretty as a Swastika", logo a seguir, tornou evidente o lado mais confrontacional e polémico do norte-americano, e o som mais trashy. A intensidade não é a mesma de outros tempos e o impacto visual é inferior; há menos anticristo e mais autocontrolo.
Mas os temas obrigatórios e icónicos são inevitáveis: "Disposable Teens", "Irresponsible Hate Anthem" e "Sweet Dreams (Are Made Of This)" em transposições cumpridoras. Pelo meio há a passagem por “Mechanical Animals”, provavelmente o registo mais certeiro de todos, com a balada passivo-agressiva "Great Big White World", altura em que Manson, surge aprisionado dentro de uma caixa transparente com pequenas luzes brancas e com uma versão muito pouco conseguida de "The Dope Show", muito distante da força do original.
O novo disco foi alvo importante ao longo do concerto mas quando Marilyn Manson voltou no encore para mais duas canções o destaque claríssimo tem de ir para a inevitável "The Beautiful People", hino e resumo do que significa Brian Warner como personagem e como músico. O concerto no Coliseu do Porto serviu para mostrar que Marilyn Manson, ainda que com menos fôlego que noutros tempos e algo perdulário na recriação de algumas canções, é ainda porta-voz de uma geração e senhor legitimo de uma certa crónica dos maus costumes.

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