16/11/2009

Depeche Mode no Pavilhão Atlântico:

Ainda “Gomo” varria o palco de um lado ao outro a apresentar o seu "Nosy" e já o Pavilhão Atlântico estava bem recheado. Contra todas as adversidades (a chuva lá fora, o futebol na televisão), Portugal acorreu em massa para assistir ao segundo concerto dos "Depeche Mode" na sala ribeirinha: três horas antes da subida ao palco dos protagonistas, já a fila para entrar na sala era considerável.
Os Depeche Mode que hoje subiram ao palco estão diferentes e isso notou-se, à saída, nos comentários de alguns fãs que viram também a actuação de 2006. Dave Gahan continua a ser um anfitrião ímpar, Martin L. Gore e Andrew Fletcher continuam a dar o litro, mas a voz do líder começa a denotar algum cansaço. Não foram poucas as vezes que o cantor deixou a multidão cantar os refrões dos hinos maiores da banda e em "Wrong", o primeiro single do álbum que serve de pretexto à actual digressão, além de ter entrado fora de tempo, algo mais pareceu estar "errado".
O público, no entanto, não se preocupou minimamente e rendeu-se sem reservas à arte dos britânicos. Apesar de o álbum editado este ano, “Sounds of the Universe” dar o nome à digressão, a banda retirou dele apenas quatro temas, com três deles logo a abrir: a dança sedutora de "In Chains" alimentou a euforia do início de espectáculo com os seus ritmos penetrantes, "Wrong" mostrou a força da alma gótica da banda em imagens ultra-saturadas projectadas no ecrã gigante (e tirou proveito de ser êxito recente para deixar o público a rebentar em aplausos) e "Hole To Feed" hipnotizou em dança sedutora. "Miles Away/The Truth Is" chegaria um pouco mais para a frente, confirmando o que já se sabia: é provavelmente um dos momentos menos inspirados das canções mais recentes da banda.
O regresso ao passado começou com o maravilhoso "Walking in My Shoes" atentamente observado por um olho de corvo projectado no globo/planeta gigante suspenso por cima do palco. "Question of Time", o tema que se seguiu, provou mais uma vez que a grande força dos Depeche Mode prende-se com a quantidade impressionante de canções que envelheceu com a mesma magia e fôlego que tinham quando primeiramente se deram a conhecer. Gahan deu então início ao exorcismo dos seus fantasmas das melhores formas que sabe: com o corpo, a dançar, e com a voz, a cantar.
"Precious" marcou a única abordagem ao soberbo Playing the Angel , registo de 2005, e a reacção do público não poderia ter sido melhor, contagiando depois "World in My Eyes" e os seus ritmos exóticos. O grande exercício synth pop que é "Fly on the Windscreen", de Black Celebration deu o mote para o primeiro período introspectivo da noite, brilhantemente servido por Martin L. Gore: o encantatório "Sister of Night" e a balada delicodoce "Home" deixaram o público em êxtase.
"Policy of Truth" marcou o regresso de Gahan ao palco e o grosso da plateia, visivelmente sub-30, manteve-se em alta (cantando a plenos pulmões) com "It's No Good". Os arranjos quase irreconhecíveis de "In Your Room" levaram muita da audiência nas bancadas a sentar-se, apenas para se levantar logo de seguida para celebrar o hino "I Feel You".
A loucura de "Enjoy the Silence", novo coro cantado a plenos pulmões, deixou antever o final do corpo principal do alinhamento em versão dançável, com Gahan a servir de maestro na passadeira que o leva para bem junto do público, mas ainda houve tempo para deixar água na boca com "Never Let Me Down Again" - com direito a ginástica braçal e um agradecimento que soou a "até já".
O encore teve início com o momento de introspecção "One Caress" - Martin L. Gore mais uma vez brilhante - e a sequência que colocou o ponto final no espectáculo fez-se sempre em registo ascendente. "Stripped" foi momento solene, "Behind the Wheel" envolveu a sala com os seus ritmos misteriosos e, a terminar em grande, o inevitável "Personal Jesus" levou à histeria generalizada.
Iguais a si próprios, mas com a idade de Dave Gahan a começar a pesar-lhe na voz, os Depeche Mode conquistaram mais uma vez o Pavilhão Atlântico e redimiram-nos do concerto cancelado na versão portuense do Super Bock Super Rock. Só não terão mesmo ficado reconciliados com a banda aqueles que não puderam vir do Porto para assistir. Haverá, com certeza, mais ocasiões.



Alinhamento:

In Chains
Wrong
Hole to Feed
Walking In My Shoes
Question of Time
Precious
World In My Eyes
Fly on the Windscreen
Sister of Night
Home
Miles Away/The Truth Is
Policy of Truth
It's No Good
In Your Room
I Feel You
Enjoy the Silence
Never Let Me Down Again
Encore:

One Caress
Stripped
Behind the Wheel
Personal Jesus

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